Em decorrência da pandemia de Covid-19, a MOSTRATU teve de se adaptar ao ambiente virtual, com apresentação de experimentos artísticos em vídeos, gravados ou ao vivo, transmitidos pelo Instagram e Youtube. A organização da mostra se deu pela ATU - A Teatra Universitária, uma ação de alunes do Teatro Universitário, que nasceu em meio à pandemia do coronavírus, com o objetivo de criar e fortalecer redes diversas entre artistas.
Em 2020, além de ter produzido a quarta mostra de cenas curtas do TU de forma online, também criou uma revista colaborativa intitulada Reverbera Reverbera | Revista Reverbera (reverberarevista.wixsite.com). Em virtude desta ação foi proposta uma nova escrita para o nome do evento, que passou de Mostra TU, para MOSTRATU, abarcando nesta nova grafia as mudanças provocadas por este novo contexto histórico-social.
A mostra tem progressivamente se aberto à presença de artistas de outras escolas e que operam em outras linguagens, aspecto facilitado pelo formato online com que aconteceu em 2020 e 2021. Para os estudantes responsáveis por sua organização, é de suma importância o contato com outros artistas em formação. A MOSTRATU possibilita, assim, um espaço de convívio, experimentação e compartilhamento que visa fortalecer o intercâmbio entre trabalhadores da arte.
Nesta edição, além das estudantes do CEFART, que têm participado desde o ano anterior, também foram recebidas propostas de estudantes do CICALT, além, é claro, das próprias estudantes do Teatro Universitário. Ao todo foram 21 cenas curtas, sendo 4 ao vivo, divididas entre 13 e 18 de outubro.
Como iniciativa para o desenvolvimento artístico da comunidade interessada foi convidado o dramaturgo, ator, diretor e pesquisador teatral Vinícius de Souza para ministrar a oficina “Dramaturgia contemporânea: como escrever no labirinto”. A oficina de 9h, dividida em 3 dias, foi uma experiência teórico - prática de iniciação à escrita dramatúrgica, tendo em vista os textos teatrais das últimas décadas – suas diversas linguagens e procedimentos de criação.
O objetivo foi propor e expandir caminhos para a escrita dramatúrgica (de estéticas à técnicas) para artistas e estudantes das artes cênicas. Nela, os participantes puderam aprender os principais elementos do texto teatral contemporâneo e produziram diversos fragmentos dramatúrgicos autorais que podem ser continuados na vida artística de cada indivíduo.
Uma das maneiras de medir o impacto do formato virtual para a MOSTRATU foi perguntando às participantes o que sentiram, acharam e perceberam desta experiência. Abaixo você confere alguns destes relatos:
dévora mc
"SAPATÃO: uma rachadura no sistema" surgiu pra gnt poder mesmo participar da mostra. Quando vi a divulgação, eu e minha companheira, Letícia Ângelo, começamos a pegar pira nos nossos rolê de bike, que era o que tava dando pra fazer em quarentena.
A gnt iria se formar esse ano, já estávamos em processo de montagem, mas as dificuldades de se manter num projeto virtual fizeram a gnt trancar, então, no ano que era pra ser de usar toda a nossa potência criativa e artística em ação, a gnt se viu meio que sendo privadas dessa experiência. A mostra surgiu num momento muito bom, a gnt já tinha entendido o atual contexto, digerido as informações e já conseguíamos pensar em outras possibilidades do nosso fazer artístico.
Tínhamos chegado a produzir um clipe em parceria com Mel Jhorge, responsável pela edição e montagem desse experimento, e nosso trampo deu uma super liga. Esse vídeo que fizemos pensando na mostrATU acabou virando um curta e já até tá inscrito em um festival de cinema estudantil kkkk Então assim, graticu por cês estarem nessa disposição cabulosa de fomentar a criação e possibilitar espaços de apresentação entre nós estudantes, isso é importante demais pra gnt ter a confiança de ganhar o mundo lá fora.
Ver escolas de Teatro trocando entre si, compartilhando seus saberes e fazeres é gostoso demais. A nossa coletiva, Fanchecléticas, surgiu a partir da MeMostra, organizada por alunes do cefart, ter a oportunidade de ver nossos trampos novos sendo paridos através do apoio de outra escola de teatro pública tb é bonito demais, quanto mais nesse momento que a gnt enquanto artistas e estudantes viemos sendo tão atacades.
Gradicidas demais por todo corre. Cês arrazaram.
Alana Aquino
Me senti muito livre para criar quando a proposta surgiu. No momento atual de isolamento, lembrei de um texto de Tennessee Willians e vi nele muito do que eu sentia. No processo de memorização do texto, as palavras e sensações iam emergindo, durante vários dias eu lembrava de passagens do texto diante dos meus sentimentos. A experiência em vídeo para quem estuda teatro, é diferente e às vezes até desconfortável, mas foi rica!
Letícia Alves Araújo
Foi muito gratificante poder participar da mostra, como ex aluna da escola me senti muito acolhida. E poder perceber como esse formato on-line possibilitou maior visibilidade para todes, alunos, ex alunos, professores e público, como uma rede de cooperação e apoio. Como eu acredito que o teatro deve ser. Múltiplo e cheio de comunicação. A troca presencial é sem dúvidas muito melhor, sentir o calor do público e poder trocar, mas temos que usar as ferramentas que temos para alcançar o máximo de pessoas possíveis. E sinto que a mostra conseguiu chegar. Percebi também esse espaço como um berço de experimentações, porque é importante experimentar, testar, perceber o que foi interessante e o que não foi e seguir pesquisando, aprendendo e melhorando. Nada é definitivo e estamos sempre em movimento.
Sol Markes
O processo foi novo, desafiador. Tivemos de entender o que queríamos, o que seria possível ser feito a distância e acabamos nos atrapalhando para entrega do material. Acredito que se fosse uma mostra presencial todas essas coisas saberíamos lidar com mais tranquilidade. Mas após o trabalho pronto tudo o que senti foi orgulho desse trabalho, dessa parceria e dessa mostra!
Marcelo Souzza
Foi uma proposta que me instigou a tentar entender os movimentos que existem entre as tecnologias e suas influencias no modo de se pensar as artes dramáticas; curioso o fato de que muitos dos trabalhos apresentados de forma gravada, se assemelhavam a forma de feitura do cinema... Qual é o limite entre teatro online e cinema? Quais são as características que diferenciam o fazer artístico dessas linguagens? Como esses dados influenciam o performance da atriz em cena?
Sadallo Andere e Arthur Barbosa
Para nós, foi algo totalmente novo criar dentro de casa e para uma apresentação virtual. Foi difícil, principalmente pela questão da pandemia e de organização de horários, além da casa ter virado uma bagunça generalizada. Tivemos muitas barreiras técnicas e tecnológicas pra superar, principalmente pelo teor e ambições da nossa proposta inicial. Ao mesmo tempo, achamos que a experiência foi interessante, desafiadora e nos possibilitou o desenvolvimento de novas habilidades artísticas e técnicas. Apesar de acreditarmos que o que estávamos fazendo não era Teatro de fato, pudemos sentir aquele frio na barriga de quando apresentamos uma cena presencialmente. Percebemos que a presença virtual de amigos, família e demais pessoas do público assistindo ao experimento ao vivo seria bastante importante e por isso, quando durante o processo, as inseguranças foram diminuindo, potencializamos as divulgações pra termos mais gente assistindo na hora da apresentação.