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CONCEPÇÕES E ATUAÇÕES AFROCENTRADAS: CURADORIA, TEATROS NEGROS E RESISTÊNCIA

Por Anair Patrícia, Denilson Tourino e Eneida Baraúna



Nos últimos dois anos fomos afetados pela pandemia da COVID 19 e todas as mazelas que ela descortinou em nosso país e no mundo. Não tem sido nada fácil a retomada das atividades sociais, ainda mais no campo das artes, mais especificamente na área das artes cênicas. Os Teatros foram uns dos primeiros estabelecimentos a serem fechados, desse modo, como sobreviver trabalhando com as artes da cena? Nos unimos via movimentos populares e de artistas pela cultura, lutando pela criação e implementação da lei Aldir Blanc e contra os vetos que ela sofreu e segue sofrendo. Nós nos reinventamos frente às telinhas para não sucumbir. Seguimos na resistência!



Dentre as ações de luta que surgiram neste período destacamos o nascimento do Festival de Teatro Negro Online da UFMG, no ano de 2020, o primeiro festival de teatros negros em 70 anos de Teatro Universitário e 23 anos do curso de graduação em Teatro. Essa realização remete aos frutos de muitos estudantes negres que ao longo de muitos e muitos anos desenvolvem pesquisas e produzem espetáculos a partir de suas escrevências e das manifestações artísticas e culturais dos movimentos afro diaspóricos, contra a invisibilização e epistemicídio das teatralidades negras.


Diante dessa trajetória de percalços e conquistas, como realizar uma curadoria que compreende essas nuances e vai ao encontro de uma encruzilhada de fruições, tensões, esboços, criações, lacunas, presenças…? É preciso pensar numa Curadoria afrocentrada com olhares ampliados para os territórios negros e a multiplicidade de nossos processos artísticos.


Uma curadoria afrocentrada com traços, perspectivas e ações destemidas na intenção de desviar dos frívolos meritocráticos e sistemas rígidos de escolhas. E assim, perpassa pelo desafio de indicar obras para comporem a programação do evento. Uma laboração de pensamentos, estratégias, afetos emancipatórios e sutilezas. O olhar afrocentrado tem anseios de congregar e celebrar!

 

Cenas e espetáculos selecionados (em ordem alfabética):

  • Corpo-Maré - Ricardo Jorge Moraes

  • Da Terra - Jonata e Nayara Leite

  • Duzantigu - Chica Reis

  • Ex-tinto - Rodrigos anteros

  • Mata rasteira - Grupo Caras Pintadas

  • Mesa-redonda: No meu ponto de vista - Coletivo 8it(e)nt4

  • Muros - Hérlen Romão

  • Na Pele - Nanda Sant'Ana e Larissa Ferreira

  • Revúlia - Ndpcon

  • Segura Teu Pranto - Sarah Va Moreira

  • Xabisa - Michelle Sá e Alexandre de Sena

 

CORPO-MARÉ - Ricardo Jorge Moraes

Monólogos que dialogam com essa proposta sobre negritude e os desafios que este corpo é colocado para sobreviver numa sociedade que ainda é genocida e enraizada do racismo estrutural. Este trabalho constitui monólogos desses vários corpos pretos que são marginalizados e colocados numa rede de fobias sociais.


Da Terra - Jonata e Nayara Leite

Filhas e netas de mulheres migrantes do interior para a capital mineira, da terra memora as heranças transmitidas pelos saberes das plantas, na instauração de um corpo-quintal que se estabelece por meio de um mascaramento realizado com folhas, frutos, raízes e legumes do dia-a-dia afroindígena brasileiro.


DUZANTIGU - Chica Reis

'DUZANTIGUS" é uma apresentação de narração de histórias que traz a memória de pretos e pretas velhas. Encantados da Umbanda, avós , que nos ligam a valores afro diaspóricos como a senioridade, e que nos levam a um lugar de afetividades , carinhos e cuidados. São um ponto de referência para aqueles que os procuram, dispostos a ouvir suas palavras de aconselhamentos e cura. São histórias que foram ouvidas de " bocas murchas a ouvidos novos".


ex-tinto - Rodrigos Anteros

ex-tinto antologia de um corpo orgânico: negro-preto inundado, soterrado, suplantado por um universo branco de plásticos o córpe negro quer se libertar, descolonizar e transpessoalizar o por vir...

atitude relacional: alteridade.

corpo território em busca de derivar...

performatização da memória: eu-com-o-outro/a/e-no-mundo experiência de empretecimento: ambiente: terra: enraizamento: - então, corpo-árvore.



Mata Rasteira - Grupo Caras Pintadas

Inspirado no romance homônimo do autor Sorocabano Abner Laurindo, o espetáculo MATA RASTEIRA do Grupo Caras Pintadas é um encontro poético e político com o universo do teatro e da cultura afro-brasileira. A peça utiliza como fundamentos a musicalidade e corporeidade da capoeira, além da contação de histórias dos Griots africanos para narrar a odisseia de Nlongi, um menino nascido em Angola, na África, que é sequestrado e escravizado por corsários portugueses e trazido para o Brasil, onde participa de importantes movimentos de resistência cultural e guerreira do povo negro em sua ânsia pela liberdade.



Mesa-redonda: No meu ponto de vista - Coletivo 8it(e)nt4

Em cena, a atriz assume a identidade como mulher negra e traz a temática da Solidão da mulher negra como discussão principal a reger o espetáculo. Sempre em primeira pessoa e através de relatos pessoais - em dramaturgia criada com referência ao texto Vivendo de amor escrito por Bell Hooks - aborda a realidade vivida por muitas mulheres negras que sentem que não vivem e não viveram o amor. A crítica ao tradicionalismo branco relacionado ao amor, e imposto pela sociedade, que nos faz acreditar no casamento como resultado do amor. Histórias vividas por ela e que são tão comuns entre as mulheres negras.



Muros - Hérlen Romão

Muros são paredes robusta de pedra, concreto que serve de proteção ou limite... Muros são extensões de qualquer coisa que nos sirva para delimitar divisas...

Os muros podem nos salvar, ou se permitirmos, os muros podem nos destruir! Temos que enxergar para além dos muros. Temos que romper com os muros que criamos para evitar ajuda à uma mulher violentada. Temos que juntas ser o muro que não vai permitir a violência contra mulher acontecer. Muros é uma performance criada pelo grupo de teatro MORRO ENCENA, para elucidar a potência da força da união das mulheres contra a violência doméstica. Através da cena que evidência medo da mulher de ser violentada, mas que, com o apoio e a força da união feminina, o medo é superado.



Na Pele - Nanda Sant'Ana e Larissa Ferreira

Na Pele demonstra sua indignação com o que corriqueiro e cotidiano, aponta o afeto, o afago, a preocupação e as precauções. Em uma sociedade indiferente, o diferente é o que corre da morte.








Segura teu Pranto - Sarah Va Moreira

"Segura teu pranto" é um experimento cênico que surge das inquietudes, angústias e resistência da atriz Sarah Vá Moreira. Na tentativa de se fazer vista e ouvida, busca sussurros para nomear-se e, a partir disso, desaguar em cena.







Xabisa - Michelle Sá e Alexandre de Sena

Xabisa é uma palavra da língua Xhosa, dialeto de origem sul-africana, que, em português, significa “Valorize”. No espetáculo de mesmo nome, duas pessoas estão em uma caverna onde, separadas, buscam por riquezas. A caverna remete ao Mito de Platão, à escravidão negra e, também, à exploração de ouro no Brasil. Ao procurar por preciosidades, entre obstáculos físicos e socioculturais, os personagens encontram a si mesmos. O trabalho propõe um encontro cultural afro-brasileiro, trazendo referências da cultura bantu, da dança Gumboot – ambas originárias da África subsaariana – e da arte do palhaço, utilizando uma linguagem teatral negra contemporânea e cômica.



 

Serviço:


"Festival de Teatro Negro UFMG"

Data de realização: 24/08 a 31/08/2022

Local: UFMG. Avenida Antônio Carlos, nº 6627, Bairro Pampulha, Belo Horizonte, MG

Contato para imprensa com especialista em Teatro Negro


Rogério Lopes

Coordenador do Festival

(31) 9 8445-0340


Marcos Alexandre Cocoordenador do Festival

(31) 9 9617-6105 marcosxandre@yahoo.com

Denise Pedron

Cocoordenadora do Festival

(31) 9 9761-0717

denisepedron@gmail.com


Dúvidas e informações

Email: fetne.tu@gmail.com


 

Anair Patrícia é filha de Edir Braga e Carlos Alves, neta de Ana e Nair. Nascida no Morro do Papagaio e criada na periferia de Justinopolis. É Atriz, Arte Educadora e Contadora de Histórias. Formada pelo curso técnico de formação do ator do Teatro Universitário da UFMG (2010) e Licenciada em Teatro pela Escola de Belas Artes da UFMG (2017). Mestranda na linha de Ensino e Humanidades no PROMESTRE da Faculdade de Educação da UFMG (2020) e bolsista no projeto da PROGRAD Teatros Negros em Rede.

Como Atriz desenvolveu a pesquisa "Teatro Negro e Resistência: O teatro como modo de subverter os processos de Silenciamento e Invisibilização", como residente da Fundação Clóvis Salgado - Palácio das Artes. Atualmente integra a Breve Cia, desenvolvendo poéticas em dramaturgias negras, direção de cena e pedagogias de ensino de teatro antirracistas, atuando como: Atriz nos espetáculos “E se todas se chamassem Carmen?”, "Querença" e nas cenas curtas Dar a luz e Uma Outra. Como diretora na peça Abismo. E compõe a equipe pedagógica da Breve Cursos Livres.


Denilson Tourinho é ator, mestre e doutorando em Educação pela UFMG. Idealizador e curador do Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras. Curador da 8ª edição do Festival Internacional de Arte Negra de Belo Horizonte e coordenador de Ações Formativas da 11ª edição. Atua em espetáculos com circulação nacional e internacional. Foi contemplado com Troféu Mês da Consciência Negra da Prefeitura de Contagem/MG; Prêmio Educar para a Igualdade Racial do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades - São Paulo/SP, com o projeto O Poder da Palavra; Prêmio de Direitos Humanos e Cidadania LGBT do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual - MG, com o espetáculo Madame Satã.



Eneida Baraúna é doutoranda em Arte pela Escola de Belas Artes da UFMG, Mestre em Educação pela FAE-UFMG (2020), Licenciada em Teatro (UFMG ) e História (UNI-BH), Eneida Baraúna é atriz, Musicista, Compositora e pesquisadora nas áreas de Teatro, educação e as relações étnico raciais negras. Em 2007 atuou no espetáculo “Exercício n°1”, dirigido por João das Neves e dirigido musicalmente por Titane. Em 2009 atuou no espetáculo musical infantil “O negro, a flor e o rosário” e no espetáculo musical “Clara Negra”, ambos dirigidos por Paula Manata (Armatrux) e Maurício Tizumba. Em 2011 iniciou o trabalho como contadora de histórias através do grupo “Contos de Mitologia” da Faculdade de Letras da UFMG, revivendo a tradição oral das mitologias indígenas, gregas e africanas, apresentando em diversas escolas e espaços culturais. Em 2014 estreou na Mostra Benjamin de Oliveira, com o espetáculo “A morte de Antônio Preto”, cantando e contando a história juntamente com o multi-artista Sérgio Pererê. Também em 2014, estreou o espetáculo “Fragmentos de Amor no Panteão Africano” no 1° Festival de Contação de Histórias do Centro Cultural do Banco do Brasil - Unidade Belo Horizonte. Em 2015 idealizou e produziu o Coletivo de Negras Autoras; atuando no espetáculo musical NEGR.A. Na música, foi integrante dos grupos ”Xicas da Silva”, “Bloco Oficina Tambolelê” e “Tambor Mineiro”.




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